quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PORNEIA- A promiscuidade no mundo grego-romano


Paulo inicia sua epístola aos romanos fazendo uma dura crítica as suas paixões imfames. Vamos analisar o contexto historico dessa promiscuidade romana.Abaixo segue a explicação histórica de W. Barclay da palavra grega porneia.


PORNEIA
B, BJ, Mar: fornicação; ARC, ARA: prostituição; P: imoralidade sexual; BLH: imoralidade; BV: pensamentos impuros.

Porneia é usada aqui como uma palavra bem geral para as relações e relacionamento sexuais ilícitos e imorais. A derivação provável da palavra lança raios relevantes de luz sobre a atitude mental por trás dela. Porneia é a prostituição, e pornê é uma prostituta. Há probabilidade de que todas estas palavras tenham ligação com o verbo pernumi, que significa “vender.” Essencialmente, Porneia é o amor que é comprado e vendido — o que não é amor de modo algum. O erro grande e básico nisto é que a pessoa com quem semelhante amor é satisfeito não é realmente considerada uma pessoa, mas um objeto. Ele ou ela é mero instrumento através de quem as exigências da concupiscência e da paixão são satisfeitas. O amor verdadeiro é a união total entre duas personalidades de modo que se tornam uma só pessoa, e que cada uma acha sua própria realização na união com a outra. Porneia descreve o relacionamento em que uma das partes pode ser comprada e descartada como um objeto, e onde não há união de personalidade nem respeito por estas.

É significativo o fato de que é com este pecado que Paulo começa. A vida sexual do mundo greco-romano nos tempos do NT era um caos sem lei. J. J. Chapman, descrevendo os tempos em que vivia Luciano, na primeira metade do século II, escreve: “Luciano vivia numa época em que a vergonha parecia ter sumido da terra.”

Na Grécia, nunca tinha havido qualquer vergonha nas relações antes do casamento ou fora dele. Demóstenes escreve como se fosse uma coisa comum, como de fato o era: “Mantemos amantes para nosso prazer, concubinas para as necessidades diárias do corpo, mas temos esposas a fim de produzir filhos de modo legítimo e de ter uma guardiã fidedigna dos nossos lares” (Contra Neera, citado por Ateneo: Deipnosophistae 573 B). Nos dias primitivos de Roma as coisas tinham sido muito diferentes, e a pureza era a regra. Mas nisto, os vencidos tinham conquistado os vencedores, e Roma aprendeu a pecar com a Grécia. “Vejo Roma,” disse Lívio, o historiador, “a Roma orgulhosa, perecendo como vítima da sua própria prosperidade” (3.13). Dificilmente é possível mencionar uma grande personagem grega que não tivesse sua hetaira, sua amante, e freqüentemente estas amantes eram as mulheres mais belas e cultas da sua época. Alexandre Magno tinha sua Tais, que depois da morte deste casou-se com Ptolomeu do Egito e tornou-se mãe de reis; Aristóteles tinha sua Herpília; Platão, sua Arquenessa; Péricles, sua Aspásia que, segundo se dizia, até mesmo escrevia seus discursos para ele; Sófocles, sua Arquipe, a quem deixou como herdeira; Isócrates, sua Metaneira, Frine, a mais famosa das cortesãs, era tão rica que se ofereceu a edificar um muro em derredor de Tebas, se os cidadãos aceitassem fazer nele a seguinte inscrição: “Embora Alexandre o tenha destruído, Frine, a cortesã, o restaurou” (Ateneu: Deipnosophistae 576-592). A atitude grega dificilmente pode ser melhor demonstrada do que pelo fato de que, quando Sólon foi o primeiro a legalizar a prostituição e a abrir prostíbulos do Estado, os lucros destes eram usados para erigir templos aos deuses (Ateneu: Deipnosophistae 569 D).

Quando a frouxidão moral grega invadiu Roma, tornou-se tristemente mais grosseira. Hiberina, diz Juvenal, não se sente mais satisfeita com um só homem, do que se sentiria com um só olho (Juvenal-.Sátiras 6.55). As mulheres romanas, diz Sêneca, casavam-se para serem repudiadas, e divorciavam-se para casar-se de novo. Algumas delas distingüiam entre os anos, não pelos nomes dos cônsules, mas pelos nomes dos seus maridos. “A castidade é mera prova da feldade” (Sêneca:Dos Benefícios 3.16.1-3). A inocência, diz Sêneca, não é rara: é não-existente (Da Ira 2.8). Juvenal pinta o quadro das mulheres romanas passando pelo altar da Modéstia com um sorriso cínico (Juvenal: Sátiras 6.308). “Quanto maior a infâmia, mais desenfreado o deleite,” disse Tácito (Tácito: Anais 11.26). Estava para chegar o dia em que Clemente da Alexandria haveria de falar de certas mulheres como a personificação do adultério, “cingidas como Vênus com um cinto dourado do vício” (Clemente da Alexandria: Paedagogus 3.2.4). Estava para chegar o dia em que Alexandre Severo, um dos grandes e bons imperadores, forneceria ao homem que entrava no governo de uma província “vinte libras de prata, seis mulas, um par de asnos, um par de cavalos, duas vestes para serem usadas no foro, duas para casa, uma para os banhos, cem moedas de ouro, uma cozinheira, um muleteiro, e uma concubina no caso de um homem que não tinha esposa e que não podia viver sem uma mulher” (Scriptores Historiae Augustae, Alexander Severus 42). A classe alta da sociedade romana havia-se tornado grandemente promíscua. Até mesmo Messalina, a imperatriz, esposa de Cláudio, saía às escondidas do palácio real à noite, a fim de servir num prostíbulo público. Ela era a última a sair de lá, e “voltava ao travesseiro imperial com todos os odores dos seus próprios pecados” (Juvenal.Sátiras 6.114-132).

Pior ainda era a imoralidade desnaturada que grassava. Começou no lar imperial. Calígula vivia conhecidamente em incesto habitual com sua irmã Drúsila, e a concupiscência de Nero nem sequer poupou sua própria mãe, Agripina (Suetônio: Calígula 34; Nero 28).

A sociedade, desde o mais alto escalão até o mais baixo, era cheia de homossexualidade. Este foi um vício que Roma aprendeu da Grécia. J. J. Dõlíinger o chama de “a grande enfermidade nacional da Grécia” (J. J. Döllinger: The Gentile and the Jew, II, pág. 239). J. J. Chapman diz que na Grécia esta degeneração “não era pessoal, mas racial”, “até se tornar inerente e arraigada”. Assemelha-a a um fungo nojento que se espalha resolutamente pela floresta (J. J. Chapman: Lucian, Plato and Greek Morais, págs. 132, 133). Num dos seus diálogos, Luciano faz Lícino narrar: “Seria melhor não necessitar do casamento, mas seguir Platão e Sócrates e contentar-se com o amor de meninos” (Luciano: Os Lapitas 39). Em outro diálogo Luciano traz para o palco a figura que representa Sócrates. “Eu sou amante dos meninos,” diz ele, “e sábio em questões do amor.” “Qual é a sua atitude para com meninos bonitos?” perguntam a ele. “Seus beijos,” responde, “serão o galardão para os mais corajosos depois de terem realizado alguma proeza esplêndida e ousada” (Luciano: Filosofias à Venda 15, 17). O Simpósio de Platão é classificado como uma das grandes obras da literatura. Seu assunto é o amor, mas é o amor homossexual. Fedro começa o assunto: “Não conheço,” diz ele, “qualquer bênção maior para um jovem que está principiando a vida do que um amante virtuoso, ou, para o amante, do que um menino querido” (Platão: Simpósio 178 D).

Gibbon escreve: “Dos quinze primeiros imperadores, Cláudio foi o único cujo gosto no amor era inteiramente correto.” Júlio César era infame como amante do Rei Nicômedes da Bitínia. “O rival da rainha”, chamavam-no, e sua paixão era o tema dos cânticos grosseiros que os soldados cantavam. Nero “casou-se” com um jovem castrado com o nome de Esporo, e passou com ele por todas as ruas de Roma, em cortejo nupcial, e ele mesmo era “casado” com um liberto chamado Doriforo. Chegou ao ponto de “imitar as lamentações de uma virgem sendo deflorada, e encenar em público os atos mais íntimos desta união indizível” (Suetônio: Nero, 28, 29). O historiador fala de Adriano com sua “paixão pelos homens e os adultérios com mulheres casadas que eram seu vício.” A paixão que Adriano tinha pelo jovem Antinous era notória, e, quando Antinous foi afogado, Adriano chegou a mandar endeusá-lo, e oráculos eram dados em seu nome (Scriptores Historiae Augustae, Adriano 11, 14). Alexandre Severo considerou a promulgação de legislação para proibir essas práticas, mas acabou resolvendo não fazê-lo, porque acreditava que o vício seria apenas transferido para a prática sigilosa, visto que as paixões dos homens tornariam impossível eliminá-lo (Scriptores Historiae Augustae, Alexandre Severo 24).

Deve ser notado que todas as evidências que aduzimos a respeito da imoralidade sexual indescritível do mundo contemporâneo com o Novo Testamento provêm, não dos escritores cristãos, mas dos pagãos que estavam enojados consigo mesmos.

Paulo coloca-se contra essa imoralidade sexual. Espanta-se com o fato de que os Coríntios não estão horrorizados diante do caso do homem que está coabitando com a esposa do seu pai (1 Co 5.1). Deste pecado o homem deve arrepender-se, senão sua chamada vida cristã é uma zombaria (2 Co 12.21). O cristão deve abster-se totalmente de tal coisa (1 Ts 4.3); deve fugir dela (1 Co 6.18); deve mortificar estas atividades (Cl 3.5). É o único pecado em que o homem peca clara e inconfundivelmente contra seu próprio corpo (1 Co 6.18), e o corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor (1 Co 6.13).

Tem sido dito que a castidade era a uma virtude completamente nova que o cristianismo introduziu no mundo pagão. E havia três razões porque a tarefa de introduzi-la foi de uma dificuldade extraordinária.

1- Não havia uma forte frente de opinião contra a imoralidade. Para o mundo greco-romano a imoralidade nas questões sexuais não era imoralidade; era o costume e a prática estabelecidos.

2- O prevalecimento das idéias gnósticas era um problema sério. O gnóstico via o espírito como totalmente bom, e a matéria como essencialmente má. Se a matéria é essencialmente má, logo, o corpo é necessariamente maligno. Sendo assim, há duas possibilidades. Em primeiro lugar, há a possibilidade do ascetismo rígido em que todos os desejos do corpo são rígida e vigorosamente negados. Em segundo lugar, há a possibilidade de que um homem argumente que, se o corpo é mau, não importa o que se faz com ele. Pode-se saturar e saciar os seus apetites, e isto não tem importância alguma, porque o corpo é, de qualquer maneira, algo perecível e maligno. Fica claro, portanto, que em certo sentido o gnosticismo poderia ser uma defesa da imoralidade.

Uma coisa fica clara: nenhum gnóstico poderia dizer, em momento algum que o corpo é para o Senhor (1 Co 6.13). Para o gnóstico, o corpo era a única parte do homem que nunca poderia ser para o Senhor. A mensagem cristã sobre a salvação da pessoa como um todo, do homem total, do corpo, alma e espírito, era uma coisa nova e necessariamente envolvia um evangelho de pureza.


3- O cristianismo teve de enfrentar uma situação onde, em muitos casos, a prostituição era vinculada com a religião. Havia muitos templos que tinham suas multidões de prostitutas sagradas. O templo de Afrodite em Corinto tinha milhares delas, e desciam para as ruas da cidade para exercer a sua profissão ao cair da tarde. O costume tem sua origem na glorificação de Deus na força vital que é mais clara no poder do sexo. O cristianismo tinha de enfrentar uma situação em que a religião e a imoralidade sexual andavam juntas.

Ninguém precisa ficar atônito porque Paulo começa sua lista das obras da carne com os pecados sexuais. Ele vivia num mundo onde tais pecados grassavam, e naquele mundo o cristianismo trouxe aos homens um poder quase milagroso para viver em pureza.
fonte: Pornéia


'Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.(GREGOS E ROMANOS) E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível (IDOLATRIA), e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.  Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;"  Rm 1, 22-23



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